Uma realidade que precisa ser dita e, que na maioria das vezes, traz sofrimento para quem é vítima de preconceito e de racismo. Mas quando o seu lugar de fala é o palco, em forma de música, com um swing, o balanço e o ritmo gostoso do 50 Tons de Pretas, a sensação parece se tornar mais suave. Com essa concepção, as cantoras e instrumentistas Dejeane Arruée e Graziela Pires, acreditam que a música sensibiliza as pessoas a estarem prontas a ouvir a mensagem, e chegam a Pelotas para apresentar o espetáculo Tira o teu racismo do caminho, na quinta-feira, às 20h no Galpão Satolep. No dia 24, é a vez de Rio Grande, às 20h, no Teatro Municipal. As duas apresentações têm entrada gratuita e o show conta com financiamento do Fundo de Apoio à Cultura FAC do Pró Cultura RS.

Para a dupla, a vinda à Zona Sul tem um significado importante, pois sabe da representatividade negra nas duas cidades. E quem vai dar as boas-vindas às gurias em Pelotas será o bailarino e coreógrafo Daniel Amaro, da Companhia de Dança Afro Daniel Amaro. Ele fará uma performance como Iansã. “Estou apostando que esse será o ponto alto do espetáculo, pois ele irá representar a ancestralidade”, arriscou dizer Dejeane. Já Graziela lembra que conheceu Amaro em uma oficina em Caxias e desde então nunca mais perdeu o contato. Ela explica que por onde passa o Tira o teu racismo do caminho recebe convidados coletivos ligados ao Movimento Negro ou artistas locais pretos, como forma de agregar mais artistas negros, reforçar a representatividade e valorização dos artistas locais, além de ampliar o impacto da ação cultural no lugar. “Sabemos o quanto Daniel é consagrado na região e estamos muito felizes por ele ter aceito o convite”, comentaram.

Espaços
Na estrada desde 2021, as artistas agora pensam em espaços alternativos. A mudança já começa por Pelotas que terá como cenário o Galpão Satolep. “O nosso público é maioria preto, pois queremos aquilombolar, mas como o espetáculo traz dados estatísticos sobre o racismo e, com isso, queremos atingir a todos”, salientou Graziela. “A luta da negritude é uma luta da humanidade. Esse é um show do coletivo, pois cantamos as nossas vivências e a música é uma ferramenta para nos aproximar das pessoas. Por isso usamos bastante ritmo e embalo para dar o recado de forma rápida e direta, mas com afeto e alegria”, completou Dejeane. As gurias adiantam que o show tem como provocação o que as pessoas podem fazer para mudar a realidade.

Sobre o show
Com estreia em novembro de 2021, Tira o teu racismo do caminho, traz sucessos do Disco Voa, lançado em 2020, e do EP Então Vem, de 2021. Estarão no repertório canções como A mais pura verdade, Basta acreditar, Tranças, Dinheiro, Nua e crua, Cidadão comum, Voa, e A nossa Canção, composta em parceria com Macau (Olhos coloridos). Clássicos do samba também serão relembrados. “Este espetáculo vem sendo sempre atualizado e repensado para criar conexão com nosso público e levar a nossa mensagem que é de luta, mas, sobretudo, de celebração da cultura negra” aponta Graziela.

As letras das canções buscam refletir sobre o ainda pequeno espaço ocupado pela mulher negra e a necessidade de empoderamento feminino, bem como, mensagens positivas e de libertação, a fim de reconhecer o potencial interno. A dupla carrega qualidade artística, com sonoridade e vozes marcantes, engajamento em lutas sociais e antirracistas e celebração da ancestralidade e vem numa crescente como destaque da cena musical gaúcha da atualidade.

“As Pretas representam, acima de tudo, vozes que foram caladas e que precisam ser ouvidas. A voz das mulheres, das mulheres negras, da luta por uma sociedade justa, do feminismo, do empoderamento de gêneros e classes sociais desfavorecidas”, afirma Graziela. Em relação à sonoridade, a 50 Tons de Pretas tem uma forte identificação com a música brasileira. “Toda essa mistura musical que temos no nosso país, toda essa riqueza harmônica que a gente tem. Samba rock também é muito presente nas nossas canções. Temos também referência de black music e do repertório que a gente ouve e o que a gente toca”, diz Dejeane.

Origem
A 50 Tons de Pretas surgiu em 2017, em Campo Bom. Professoras de música da rede pública, Dejeane e Graziela foram convidadas para uma apresentação especial de Dia da Mulher. Chamaram alunas e colegas para formar um grupo. A apresentação foi um sucesso e o projeto se estabeleceu com Dejeane Arruée e Grazi Pires. A dupla acumula um repertório representativo e diverso. O primeiro espetáculo A mais pura verdade, circulou por mais de 15 cidades em 2018, pelo SESC, e foi indicado ao Prêmio Açorianos de Música na categoria Melhor Espetáculo, em 2019. O primeiro disco, Voa, foi lançado em novembro de 2020 e teve enorme reconhecimento de público e de crítica. Sendo premiado no Prêmio Açorianos de Música em 2021 como Melhor álbum MPB, melhores intérpretes e melhores compositoras. Um feito inédito na história do tradicional prêmio, foi a conquista destes três troféus por duas artistas pretas com um trabalho independente. Em 2021, as Pretas lançaram o EP Então Vem e suas músicas ganharam troféus em festivais nacionais no Paraná e Minas Gerais. Em fevereiro deste ano, a 50 Tons de Pretas foi contemplada pelo edital Natura Musical 2023. Com essa novidade, elas já preparam o novo disco, que deverá ter o título Tira o Teu Rracismo do caminho.

O espetáculo tem 1h30min de duração. A direção musical é de Dejeane Arruée, que junto com Graziela Pires assina a concepção artística e cênica. A produção é da Pretas Produções em parceria com Bretanha Produções.

Serviço

Pelotas
Quando: 13 de abril
Onde: Galpão Satolep, na rua José do Patrocínio, 8
Horário: 20h
Quanto: entrada gratuita (retirada dos ingressos pelo Sympla)

Rio Grande
Quando: 24 de abril
Onde: Teatro Municipal do Rio Grande, na Avenida Major Carlos Pinto, 312
Horário: 20h
Quanto: entrada gratuita (retirada dos ingressos pelo Sympla)